quinta-feira, 11 de julho de 2013

Lógica para Principiantes – 3ª Parte



 
1.      Segundo Boécio, todo prólogo deve preparar o ouvinte captando a benevolência, despertando a atenção, produzindo a docilidade, ou todos juntos. Segundo Abelardo, Porfírio capta a docilidade do leitor ao apresentar os cinco nomes e desperta a sua atenção ao mencionar a quádrupla utilidade da matéria.

 

2.      Questões avançadas sobre o assunto, mencionadas por Porfírio, para que o leitor não as negligencie, embora não sejam tratadas, em razão da inexperiência do leitor.

 

a)      Se os gêneros e as espécies têm verdadeiro ser, ou se são apenas opiniões.

b)      Se têm ser, se este é corpóreo ou incorpóreo.

c)      Se é incorpóreo, se separados dos sensíveis ou colocados neles.

 

3.      Problema posto por Abelardo, a partir do Isagoge: distinguir as propriedades dos universais das dos singulares e responder se elas cabem apenas às palavras ou também às coisas.

 

a)      Distinguir a propriedade do universal da do singular.

Aristóteles disse que universal é aquilo que é naturalmente apto para ser predicado de muitos. Porfírio disse que singular é aquilo que se predica de um só. Tanto para um autor quanto para o outro, o vocábulo “aquilo” das mencionadas definições se referem às palavras e às coisas.

Abelardo, todavia, discorda deles.

a.1) Sobre a aplicação do universal e do singular às coisas.

Apesar de discordar, expõe duas opiniões utilizadas pelos autores que defendem a aplicação do universal às coisas.

Pela primeira opinião, dizem que universal é uma substância essencialmente una, estando, entretanto, em coisas que se diferenciam umas das outras pelas formas. Segundo eles, universal é a essência material das coisas singulares. Essa essência, apesar de ser una, está ao mesmo tempo em todas as coisas singulares subordinadas e a singularidade de cada uma delas é adquirida pela forma; é também incorpórea, porque sem a forma não permanece de maneira nenhuma atual.

Pela segunda opinião, dizem que as coisas singulares se distinguem pela forma e pela matéria e são, portanto, pessoalmente distintas nas suas essências, mas conservam o universal naquilo que tem de indiferente e no acordo da semelhança que mantêm entre si. Assim, chamam de universal, segundo o caráter comum, aquelas mesmas coisas que chamam de singulares, segundo a distinção.

Abelardo refuta estas duas opiniões argumentando o seguinte: a primeira opinião se opõe à física, pois não há coisa alguma na qual as coisas singulares se reúnem; e a segunda opinião é indevida porque se os singulares se diferenciam segundo suas definições, não podem ser naturalmente universais.

Assim, para Abelardo, apenas o singular se aplica às coisas.

a.2) Sobre a aplicação do universal e do singular às palavras.

Os vocábulos simples podem ser universais e singulares. O universal é aquele que é predicado de muitos, tomados um a um. O singular é aquele que é predicado de um único.

A expressão “aquele que” da definição do universal indica não só a simplicidade do vocábulo, mas também sua univorsidade, pois os vocábulos equívocos possuem vários significados. “Ser predicado”, por sua vez, significa poder ser ligado a algo em virtude da enunciação do verbo substantivo no presente “é” contido em todo verbo. E “de muitos”, significa considerar os nomes no que se refere à diversidade do que é nomeado.

Dito isto, distingue a “ligação de construção”, própria dos gramáticos, da “ligação de predicação”, própria dos dialéticos. Aquela é toda ligação, utilizando o verbo “é”, que faça sentido numa sentença gramaticalmente correta. Está é a ligação que diz respeito à natureza das coisas e a apresentação da verdade do seu estado. Por exemplo, na frase “Este homem é pedra” faz sentido e é gramaticalmente correta, sendo “pedra” posta como predicado, portanto, possui uma “ligação de construção”, mas na natureza das coisas “pedra” não é predicável de homem, daí não ser uma “ligação de predicação”.

Ora, mas se não há coisas universais, então parece que as palavras universais são desprovidas de significação, pois os significados das palavras se referem às coisas. Tal conclusão, entretanto, é rechaçada por Abelardo, pois o vocábulo universal nomeia cada coisa a ele subordinada em razão de uma causa comum, que provoca certa intelecção comum pertinente a cada uma delas. A referida causa comum é serem semelhantes todos os singulares a quem o universal se aplica, mas isto não é algo possuído de essência.

Quanto à intelecção, distingue-a da sensação. A sensação é exercida por meio dos instrumentos corpóreos dos sentidos e só percebem os corpos ou o que estão neles. A intelecção, de outra forma, é exercida através da mente e incide sobre o que a mente elabora para si mesma, a partir da semelhança com as coisas corpóreas.

A intelecção é certa ação da alma dirigida para certa coisa imaginária e fictícia que o espírito elabora para si. Assim, através da intelecção dos nomes universais, a mente concebe uma imagem comum e confusa de muitos e, na dos nomes singulares, engendra e apreende uma imagem própria e como que singular de um só. Portanto, está subordinada à intelecção do nome universal a forma comum concebida pela mente e na do nome singular, a forma própria.

A matéria e a forma sempre se apresentam reunidas na física, mas o espírito pode inteligi-las em separado, por abstração, ou de modo reunido, por conjunção. 

A união ou divisão são concebidas em dois sentidos. Em razão de alguma semelhança ou em razão de alguma aposição ou agregação. Assim se compõem os separados e se separam os compostos, sem se afastar da natureza das coisas, e é por isso que esse procedimento é racional e não opinativo.

A intelecção do nome universal em razão da causa comum apreendida dos singulares ocorre por abstração. A abstração é um modo de inteligir a coisa somente sob determinado aspecto, excluindo da consideração todos os demais. Ela não é um modo da coisa subsistir, pois a coisa subsiste completa.

Quando se intelige um nome universal, a atenção se volta para aquele aspecto que o termo remete, afastando todas as coisas singulares que cabem na sua extensão, assim como os outros aspectos que tais coisas possuem. A intelecção dos nomes universais é isolada, pura e nua. Isolada das sensações, pois não percebe a coisa como sensível; nua quanto à abstração de todas ou de algumas formas e pura, porque nenhuma coisa é certificada nela, daí porque Abelardo chama esta concepção de confusa.

Mas as palavras, produto desta intelecção, não são vazias de significado.

Os nomes universais estão para os nomes singulares como o que excede está para o que é excedido. Os universais não contem apenas nome, mas também verbos e nomes indefinidos, exceto os casos oblíquos, porque não podem ser predicados.

4.      Segundo o tempo da coisa pensada, o pensamento pode ser previsão, memória ou inteligência. Memória é o pensamento quanto ao que é no passado; inteligência, quanto ao que é no presente; e previsão, quanto ao que é no futuro. Estes não são vazios, a não ser que careçam de efeito.

 

5.      Resposta às questões de Porfírio

 

a)      Os universais existem ou estão apenas na inteligência?

 

Significam pela denominação coisas verdadeiramente existentes, as mesmas coisas referidas pelos nomes singulares subordinados; de outra maneira, consistem numa intelecção isolada, nua e pura.

 

b)      Se subsistentes, são corporais ou incorporais?

 

Considerando universal aquilo que é essencialmente separado dos demais, os universais, quanto ao modo de denominar, são incorpóreos, porque não denominam coisas separadamente e determinadamente, mas o próprio nome universal é corpóreo quanto a sua essência.

 

c)      Os universais se encontram no sensível?

 

Os universais subsistem nos sensíveis, em virtude das formas exteriores, mas manifestam-se como separados da coisa sensível.

 

d)      Os universais denominam o próprio sensível ou também algo outro?

 

Significam os próprios sensíveis e ao mesmo tempo a concepção comum. Extinguindo-se todas as coisas sensíveis subordinadas a um determinado universal, este já não será predicado de vários e neste aspecto da denominação perderá sentido, mas ainda será significativo em virtude da intelecção, até para dizer que não há mais aquela coisa, dito assim de modo comum.

 

6.      Consideração final de Abelardo

 

Porfírio tratou apenas dos universais porque eles são os mais complicados , deixando de lado os singulares, pois quanto a eles não havia dúvidas.

 

Quando se explica as palavras quanto à significação, ora se trata das palavras, ora das coisas, frequentemente transpondo o nome daquelas para esta e destas para aquelas. Daí o tratamento às vezes ambíguo da lógica e da gramática, que muitas vezes induz a erro, em razão da não distinção adequada da propriedade da imposição dos nomes ou o abuso das transferências.

 

A universalidade, que as coisas conferem a palavra universal, as próprias coisas não a têm singularmente, porquanto a palavra universal não tem significação por causa da coisa, mas sim de acordo com a semelhança da multidão de coisas.   

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Lógica para Principiantes – 2ª Parte


1.       O nome do gênero e dos outros não designam a substância das coisas, mas a suas propriedades.

 

2.       De quê modo os cinco convêm ao conhecimento das categorias, da divisão, da definição e da demonstração.

 

a)      Das Categorias

 

O gênero, pelo fato de nas categorias Aristóteles nomear os gêneros, sendo necessário, portanto, previamente, se saber o que é gênero. A espécie, porque sem esta não há conhecimento do gênero, pois eles são correlativos; o gênero é gênero das espécies e estas são espécies do gênero. Da diferença, porque juntada ao gênero perfaz a espécie, daí porque é necessária ao conhecimento destes dois. A diferença é posta como divisão do gênero.

 

O próprio é necessário, porque Aristóteles indica o que é próprio de cada categoria, mas não explica o significado de próprio. Embora Porfírio trate do próprio das espécies especialíssimas e Aristóteles, do próprio dos gêneros supremos, o conhecimento de todos se dá por semelhança. Por fim, o acidente, porque são acidentes nove dentre as dez categorias e não há em Aristóteles a explicação sobre este termo, além de ser importante para se entender a distinção entre diferença e próprio, pois está é qualidade acidental e aquela qualidade essencial.

 

b)      Da Definição

 

As definições são de dois tipos: substancial e descritiva. A definição substancial se aplica apenas as espécies e é formada pelo gênero contraído pela diferença específica, daí porque o conhecimento de espécie, gênero e diferença é necessário para esta definição. A definição descritiva, que se aplica aos indivíduos, é frequentemente derivada dos acidentes, daí porque o conhecimento de acidente é necessário a esta definição.

 

O próprio também é útil para a definição, pois esta é conversível naquele.

 

c)       Da divisão

 

Os cinco são úteis para a divisão, pois sem eles as divisões seriam feitas mais ao acaso do que deliberadamente.

 

Há três tipos de divisão essencial: do gênero, do todo e da palavra. A divisão do gênero pode ser em espécies ou em diferenças colocadas nos lugares das espécies. A divisão do todo em partes não se confunde com a do gênero, pois na do gênero este é atribuível univocamente a cada espécie isolada, mas na do todo este não é atribuível a cada parte isolada. A divisão da palavra em equívocas é conhecida a partir das definições e para estas já foi demonstrada a utilidade dos cinco.

 

Há três tipos de divisão acidental: do acidente em acidentes, do acidente em sujeitos e do sujeito em acidentes. É evidente a importância dos cinco para o conhecimento desta divisão.

 

 Portanto, são úteis para o conhecimento da divisão substancial e acidental.

 

d)        Da argumentação

 

Eles são úteis para se descobrir os argumentos e para comprovar os argumentos descobertos, pois isto é feito de acordo com a natureza dos cinco, como já dito em outro lugar.

 

A argumentação pronunciada pelo autor é no sentido genérico, isto é, os cinco são úteis para o conhecimento de todos os tipos de argumentação e não só do silogismo.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Lógica para Principiantes - 1ª Parte

(Livro de Pedro Abelardo, que comenta o Isagoge, de Porfírio)

1.       Introdução ao Isagoge

 

a)      Lógica.

 

Pertence ao gênero da filosofia. Boécio disse que a filosofia é a ciência que se detém nas coisas mais elevadas. Divide a filosofia em três espécies: especulativa, que se ocupa da natureza das coisas; moral, que se ocupa da dignidade da vida a ser considerada; e racional ou lógica, que se ocupa da ordem dos argumentos a serem compostos.

 

Boécio disse que a lógica pode ser tanto parte da filosofia quanto instrumento para uso das outras partes e, inclusive, instrumento para si mesma.

 

b)      Razão para a Lógica

 

Ainda segundo Boécio, consiste em reduzir e redigir as regras certas de argumentação, para que não leve ao erro de assegurar o que não se encontra na natureza das coisas, ou reuni contrários quanto as suas condições.

 

c)       Ordem ao redigir a Lógica

 

Primeiro, deve-se escrever sobre os termos simples; depois, sobre as proposições, e, por fim, sobre as argumentações, porque as argumentações resultam das proposições e estas das palavras.

 

d)      Em que consiste o Isagoge

 

Numa introdução ao livro “Categorias” de Aristóteles, que é necessário ao conhecimento de toda arte.

 

e)      Intenção do Isagoge

 

Principalmente, instruir o leitor nas Categorias de Aristóteles.

 

f)       A matéria do livro Isagoge

 

Tratar dos cinco nomes, que são o gênero, a espécie, a diferença, o próprio e o acidente, porque estes são discutidos em quase toda a série das Categorias. Estes cinco nomes são tratados pelo Isagoge sob dois aspectos: esclarecendo a significação de cada um dos nomes, para serem entendidos quando mencionados nas Categorias; e se referindo as infinitas (indeterminadas) coisas significadas pelos cinco nomes como se tratassem de cinco, pois estes cinco são propriedades das infinitas coisas.

 

g)      Modo do Isagoge tratar os cinco nomes

 

Primeiro, distingue a natureza de cada um deles; segundo, para maior conhecimento, passa ao que lhes é comum e, terceiro, às suas propriedades.

 

h)      A Necessidade dos cinco nomes

 

Principalmente, para entender as Categorias, mas também para dividir, definir e demonstrar. A ciência das Categorias está no livro de Aristóteles; definir é atribuir ou compor definições; e dividir e demonstrar são argumentações.

 

i)        De que modo os cinco nomes são necessários

 

Algo pode ser necessário em três sentidos: primeiro, como inevitável, algo que é necessário para a constituição da essência da coisa; segundo, como utilidade, algo que é necessário previamente para se chegar a outro ulterior; e terceiro, como determinado, algo que ocorrerá com certeza. A necessidade dos cinco nomes é no sentido de utilidade.

 

j)        A que parte da Lógica a ciência dos cinco nomes se refere

 

De acordo com Cícero e Boécio, a lógica se compõe de duas partes: a ciência de descobrir os argumentos e a ciência de julgá-los. Julgar significa comprovar os argumentos descobertos, logo, como disse Cícero, a descoberta é naturalmente anterior ao julgamento.

 

A ciência dos cinco nomes se refere às duas partes da lógica, mas principalmente à descoberta. É certa parte da descoberta, pois dos cinco nomes se tira argumentos. Diz respeito também ao julgamento, pois a comprovação do argumento tirado dois cinco nome se faz com a constatação da sua correspondência com a natureza dos cinco nomes.

 

k)      Divisão da Dialética segundo Boécio

 

Divide-se em, primeiro, ciência da descoberta e do juízo e, segundo, ciência da divisão, da definição e da dedução. Mas estas partes estão inter-relacionadas: a descoberta é um dos membros da primeira divisão; na descoberta se inclui a ciência da divisão ou da definição, porque os argumentos são tirados destas duas.

 

As categorias, por onde se entra na Lógica, não se separa desta, pois fornece os recursos máximos para os argumentos, porque, por meio destas, é possível confirmar de que natureza cada coisa é ou não.

domingo, 26 de maio de 2013

Resumo do Isagoge de Porfírio - 3ª Parte


1.       Dos caracteres comuns e diferentes entre as cinco vozes
 
a)      Comum entre todas – serem atribuídos a uma pluralidade de sujeitos
 
b)    Comum entre gênero e diferença – contêm as espécies; tudo que lhes for atribuído será também às espécies subordinadas; se destruídos, desaparecem também os seus subordinados.
 
c)     Diferença entre gênero e diferença – o gênero é atribuído a um maior número de coisas que a diferença; o gênero contém a diferença em potência; os gêneros são anteriores à diferença e seu desaparecimento acarreta o desta; o gênero é atributo que entra na essência da coisa e a diferença na qualidade; o gênero é um para cada espécie e a diferença é múltipla; o gênero desempenha o papel de matéria e a diferença de forma.
 
d)    Comum entre gênero e espécie – são anteriores às coisas as quais são atribuídos; cada um deles forma um todo.
 
e)    Diferença entre gênero e espécie – os gêneros contêm as espécies; os gêneros anteriores, informados pelas diferenças específicas, formam as espécies; os gêneros são anteriores por natureza às espécies e o desaparecimento daqueles acarretam o destas; os gêneros são atribuídos por sinonímia às espécies e o contrário não sucede; os gêneros possuem uma maior extensão que as espécies e estas uma compreensão maior que aqueles; nem a espécie poderia se tornar gênero supremo nem este espécie especialíssima.
 
f)     Comum entre gênero e próprio – são logicamente posteriores as espécies; o gênero é atribuído igualmente às espécies por sinonímia e os próprios são atribuídos igualmente aos indivíduos que dele participam também por sinonímia.
 
g)    Diferença entre gênero e próprio – o gênero é anterior e o próprio posterior; o gênero é atribuído a várias espécies e o próprio apenas a uma espécie a ele pertinente; o gênero não se recíproca com as espécies e o próprio sim, com a espécie a ele pertinente; a destruição do gênero acarreta a do próprio, mas o inverso não é verdadeiro.
 
h)    Comum entre gênero e acidente – apenas o que há de comum entre todos, serem atribuídos a uma pluralidade de sujeitos.
 
i)      Diferença entre gênero e acidente – o gênero é anterior ao acidente e a destruição daquele acarreta o deste, mas o contrário não é verdadeiro; todos os que participam do gênero, participam igualmente, mas os que participam do acidente estão sujeitos ao mais e ao menos; os acidentes subsistem primordialmente nos indivíduos e os gêneros são anteriores; os gêneros são atribuídos essencialmente e os acidentes como qualidade ou maneira de ser.
 
j)      Comum entre a diferença e a espécie – são igualmente participáveis pelos indivíduos subordinados.
 
k)    Diferença entre diferença e a espécie – diferença é um atributo na qualidade e espécie na essência; a diferença as vezes se aplica a várias espécies e a espécie apenas aos indivíduos subordinados; a diferença é anterior a espécie, pois sem o racional não há homem, mas sem o homem há o racional; uma diferença junta a outra forma uma espécie, mas as espécies não se juntam para formar algo.
 
l)      Comum entre a diferença e o próprio – estão sempre na totalidade do sujeito e são participados igualmente pelos seus subordinados.
 
m) Diferença entre diferença e o próprio – a diferença muitas vezes se aplica a uma pluralidade de espécies, mas o próprio apenas a uma; a diferença é logicamente posterior aos termos dos quais é diferença, porém não lhe é recíproca, e o próprio subsiste aos termos dois quais é próprio e se reciprocam.
 
n)   Comum entre a diferença e o acidente – a diferença e o acidente inseparável estão no sujeito e em todo o sujeito.
 
o)   Diferença entre diferença e o acidente – a diferença contém e não é contida, mas o acidente contém e são contidos, pois o sujeito é receptáculo de vários acidentes; a diferença não admite mais e menos e o acidente sim; as diferenças contrárias não são combináves, os acidentes sim.
 
p)   Comum entre a espécie e o próprio – são atribuídos reciprocamente um ao outro; pertencem a título igual aos seres que deles participam.
 
q)   Diferença entre a espécie e o próprio – a espécie pode ser gênero de outros e o próprio não; a espécie está realizada antes do próprio; a espécie está sempre em ato nos seus sujeitos, mas o próprio  está as vezes em potência.
 
r)    Comum entre a espécie e o acidente – o caráter comum geral.
 
s)   Diferença entre a espécie e o acidente – a espécie é atribuída essencialmente e o acidente na qualidade e na maneira de ser; as substâncias participam apenas de uma espécie, mas de vários acidentes; as espécies são concebidas antes dos acidentes; a espécie não admite mais e menos e o acidente sim.
 
t)   Comum entre o próprio e o acidente inseparável – sem eles os sujeitos aos quais são considerados não podem subsistir e estão sempre em todo o sujeito e sempre.
 
u)  Diferença entre o próprio e o acidente inseparável – o próprio está presente apenas numa espécie e aos acidentes em várias; o próprio substitui na atribuição o do qual ele é próprio e o acidente não; o próprio não admite o mais e o menos e o acidente sim.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Resumo do Isagoge de Porfírio - 2ª Parte


1.       Do gênero

a)      1º sentido – gênero é o ponto de partida para a geração de uma coleção de coisas relacionadas em vista deste ponto. Ex: os heráclidas provêm de Hércules.

b)      2º sentido - gênero é o princípio sob o qual estão ordenadas as espécies.

c)       3º sentido – é o atributo essencial aplicável a uma pluralidade de coisas que diferem entre si especificamente. Ex: animal. Este é o sentido de que tratam os filósofos.

d)      O gênero, a diferença, a espécie, o próprio e o acidente são aplicáveis a diversos seres que possuem entre si caracteres comuns.

e)      O gênero se difere dos atributos de um único indivíduo porque se aplicam a vários. Diferencia-se das espécies porque estas se aplicam a indivíduos apenas distintos numericamente e não especificamente.

f)        O gênero é diferente do próprio, pois este se aplica a uma única espécie e aos indivíduos que a integra; o gênero se aplica a várias espécies.

g)      O gênero se distingue da diferença e do acidente, pois embora estes se apliquem a várias espécies, não se aplicam de modo essencial, mas qualitativamente.

2.       Da espécie

a)      1º sentido – espécie é a forma de cada coisa.

b)      2º sentido – espécie é o que é subordinado imediatamente ao gênero e ao que o gênero é atribuído essencialmente, como homem é uma espécie do gênero animal.

c)       3ª sentido – espécie especialíssima é aquela que se aplica essencialmente a uma pluralidade de seres que se diferem entre si apenas numericamente.

d)      Em cada categoria há o gênero supremo, termo acima do qual não se encontra outro; há espécies intermediárias, acima das quais se encontram outras mais elevadas ou o gênero supremo e abaixo das quais se encontram outras subordinadas ou a espécie especialíssima; e há a espécie especialíssima, abaixo das quais se encontram apenas os indivíduos numericamente considerados.

e)      A doutrina de Aristóteles ensina que o ser não é o gênero supremo de todos os gêneros e espécies, pois as dez gêneros das Categorias é que são supremos e chamá-las todas de ser se diz por homonímia e não por sinonímia.

f)       As espécies especialíssimas são em número finito e os indivíduos em número infinito (no sentido de desconhecido).

g)      Para Platão a ciência vai dos gêneros supremos às espécies especialíssimas, e vice versa, mas não até os indivíduos.

h)      Pelo comum, o múltiplo se torna um e pelo particular o um se torna múltiplo.

i)        Os gêneros superiores podem sempre ser atribuídos aos inferiores, às espécies especialíssimas e aos indivíduos. Isso define a extensão dos termos. O indivíduo só pode ser atribuído a um ser particular, como a Sócrates ou a esta coisa que está aqui na mesa.  

j)        O indivíduo é aquele portador de particularidades exclusivas.

3.       Da diferença

a)      Diferença Comum – quando uma coisa difere de outra, por uma alteridade qualquer, ou quando uma coisa difere de si mesma. Ex: Sócrates difere de Platão e Sócrates criança difere de Sócrates adulto.

b)      Diferença própria – quando uma coisa difere da outra em razão de um acidente inseparável dela, como a cor dos olhos ou uma cicatriz.

c)       Diferença propriíssima – uma coisa difere de outra em razão de uma diferença específica.

d)      As diferenças comuns e próprias tornam o ser de uma qualidade outra, e a diferença propriíssima torna o ser outro.

e)        A divisão do gênero em espécies decorre das diferenças específicas e esta, junto ao gênero, define a espécie.

f)       As diferenças podem ser inseparáveis e separáveis. Dentre as inseparáveis, umas são essencialmente e outras por acidente. As inseparáveis essenciais são as específicas.

g)      As diferenças inseparáveis essenciais não admitem o mais e o menos, as acidentais sim.

h)      As diferenças inseparáveis essenciais se dividem entre aquelas que constituem a substância do gênero e aquelas que dividem o gênero em espécies.

i)        1ª Definição de diferença específica – é o que faz com que a espécie ultrapasse o gênero em compreensão.

j)        Os gêneros possuem as diferenças específicas apenas em potência.

k)      2ª Definição de diferença específica – é o que é atribuído na categoria da qualidade a uma pluralidade de coisas que, por isso, se diferem especificamente.

l)        3ª Definição de diferença específica – é o que separa naturalmente as coisas subordinados ao mesmo gênero.

m)    A diferença não só separa as coisas dentro do mesmo gênero, mas também contribui para a própria essência das coisas separadas.

4.       Do próprio

a)      1º Sentido – próprio é o que pertence acidentalmente a uma espécie, mesmo sem pertencer a toda a espécie. Ex.: é próprio do homem exercer a medicina.

b)      2º Sentido – próprio é o que pertence a espécie, a toda espécie, mas não a ela apenas. Ex.: é próprio do homem ser bípede.

c)       3º Sentido - próprio é o que pertence a uma só espécie, e a toda ela, mas num momento determinado. Ex.: é próprio do homem encanecer na velhice.

d)      4º Sentido – é o que pertence a uma só espécie, a toda ela, sempre, mesmo que em potencial. Ex.: é próprio do homem a faculdade de ri. É uma qualidade que faz sempre parte da natureza da espécie.
5.       Do acidente.
a)      1º Sentido – acidente é o que se produz e desaparece sem acarretar a destruição do sujeito.

b)      Divide-se em inseparável ou separável do sujeito. Ex.: dormir é separável do sujeito, ser negro, não.

c)       2º Sentido – acidente é o que pode pertencer ou não pertencer ao sujeito.

d)      3º Sentido – acidente é o que não é gênero, espécie, diferença ou próprio, mas é sempre subsistente num sujeito.