domingo, 26 de maio de 2013

Resumo do Isagoge de Porfírio - 3ª Parte


1.       Dos caracteres comuns e diferentes entre as cinco vozes
 
a)      Comum entre todas – serem atribuídos a uma pluralidade de sujeitos
 
b)    Comum entre gênero e diferença – contêm as espécies; tudo que lhes for atribuído será também às espécies subordinadas; se destruídos, desaparecem também os seus subordinados.
 
c)     Diferença entre gênero e diferença – o gênero é atribuído a um maior número de coisas que a diferença; o gênero contém a diferença em potência; os gêneros são anteriores à diferença e seu desaparecimento acarreta o desta; o gênero é atributo que entra na essência da coisa e a diferença na qualidade; o gênero é um para cada espécie e a diferença é múltipla; o gênero desempenha o papel de matéria e a diferença de forma.
 
d)    Comum entre gênero e espécie – são anteriores às coisas as quais são atribuídos; cada um deles forma um todo.
 
e)    Diferença entre gênero e espécie – os gêneros contêm as espécies; os gêneros anteriores, informados pelas diferenças específicas, formam as espécies; os gêneros são anteriores por natureza às espécies e o desaparecimento daqueles acarretam o destas; os gêneros são atribuídos por sinonímia às espécies e o contrário não sucede; os gêneros possuem uma maior extensão que as espécies e estas uma compreensão maior que aqueles; nem a espécie poderia se tornar gênero supremo nem este espécie especialíssima.
 
f)     Comum entre gênero e próprio – são logicamente posteriores as espécies; o gênero é atribuído igualmente às espécies por sinonímia e os próprios são atribuídos igualmente aos indivíduos que dele participam também por sinonímia.
 
g)    Diferença entre gênero e próprio – o gênero é anterior e o próprio posterior; o gênero é atribuído a várias espécies e o próprio apenas a uma espécie a ele pertinente; o gênero não se recíproca com as espécies e o próprio sim, com a espécie a ele pertinente; a destruição do gênero acarreta a do próprio, mas o inverso não é verdadeiro.
 
h)    Comum entre gênero e acidente – apenas o que há de comum entre todos, serem atribuídos a uma pluralidade de sujeitos.
 
i)      Diferença entre gênero e acidente – o gênero é anterior ao acidente e a destruição daquele acarreta o deste, mas o contrário não é verdadeiro; todos os que participam do gênero, participam igualmente, mas os que participam do acidente estão sujeitos ao mais e ao menos; os acidentes subsistem primordialmente nos indivíduos e os gêneros são anteriores; os gêneros são atribuídos essencialmente e os acidentes como qualidade ou maneira de ser.
 
j)      Comum entre a diferença e a espécie – são igualmente participáveis pelos indivíduos subordinados.
 
k)    Diferença entre diferença e a espécie – diferença é um atributo na qualidade e espécie na essência; a diferença as vezes se aplica a várias espécies e a espécie apenas aos indivíduos subordinados; a diferença é anterior a espécie, pois sem o racional não há homem, mas sem o homem há o racional; uma diferença junta a outra forma uma espécie, mas as espécies não se juntam para formar algo.
 
l)      Comum entre a diferença e o próprio – estão sempre na totalidade do sujeito e são participados igualmente pelos seus subordinados.
 
m) Diferença entre diferença e o próprio – a diferença muitas vezes se aplica a uma pluralidade de espécies, mas o próprio apenas a uma; a diferença é logicamente posterior aos termos dos quais é diferença, porém não lhe é recíproca, e o próprio subsiste aos termos dois quais é próprio e se reciprocam.
 
n)   Comum entre a diferença e o acidente – a diferença e o acidente inseparável estão no sujeito e em todo o sujeito.
 
o)   Diferença entre diferença e o acidente – a diferença contém e não é contida, mas o acidente contém e são contidos, pois o sujeito é receptáculo de vários acidentes; a diferença não admite mais e menos e o acidente sim; as diferenças contrárias não são combináves, os acidentes sim.
 
p)   Comum entre a espécie e o próprio – são atribuídos reciprocamente um ao outro; pertencem a título igual aos seres que deles participam.
 
q)   Diferença entre a espécie e o próprio – a espécie pode ser gênero de outros e o próprio não; a espécie está realizada antes do próprio; a espécie está sempre em ato nos seus sujeitos, mas o próprio  está as vezes em potência.
 
r)    Comum entre a espécie e o acidente – o caráter comum geral.
 
s)   Diferença entre a espécie e o acidente – a espécie é atribuída essencialmente e o acidente na qualidade e na maneira de ser; as substâncias participam apenas de uma espécie, mas de vários acidentes; as espécies são concebidas antes dos acidentes; a espécie não admite mais e menos e o acidente sim.
 
t)   Comum entre o próprio e o acidente inseparável – sem eles os sujeitos aos quais são considerados não podem subsistir e estão sempre em todo o sujeito e sempre.
 
u)  Diferença entre o próprio e o acidente inseparável – o próprio está presente apenas numa espécie e aos acidentes em várias; o próprio substitui na atribuição o do qual ele é próprio e o acidente não; o próprio não admite o mais e o menos e o acidente sim.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Resumo do Isagoge de Porfírio - 2ª Parte


1.       Do gênero

a)      1º sentido – gênero é o ponto de partida para a geração de uma coleção de coisas relacionadas em vista deste ponto. Ex: os heráclidas provêm de Hércules.

b)      2º sentido - gênero é o princípio sob o qual estão ordenadas as espécies.

c)       3º sentido – é o atributo essencial aplicável a uma pluralidade de coisas que diferem entre si especificamente. Ex: animal. Este é o sentido de que tratam os filósofos.

d)      O gênero, a diferença, a espécie, o próprio e o acidente são aplicáveis a diversos seres que possuem entre si caracteres comuns.

e)      O gênero se difere dos atributos de um único indivíduo porque se aplicam a vários. Diferencia-se das espécies porque estas se aplicam a indivíduos apenas distintos numericamente e não especificamente.

f)        O gênero é diferente do próprio, pois este se aplica a uma única espécie e aos indivíduos que a integra; o gênero se aplica a várias espécies.

g)      O gênero se distingue da diferença e do acidente, pois embora estes se apliquem a várias espécies, não se aplicam de modo essencial, mas qualitativamente.

2.       Da espécie

a)      1º sentido – espécie é a forma de cada coisa.

b)      2º sentido – espécie é o que é subordinado imediatamente ao gênero e ao que o gênero é atribuído essencialmente, como homem é uma espécie do gênero animal.

c)       3ª sentido – espécie especialíssima é aquela que se aplica essencialmente a uma pluralidade de seres que se diferem entre si apenas numericamente.

d)      Em cada categoria há o gênero supremo, termo acima do qual não se encontra outro; há espécies intermediárias, acima das quais se encontram outras mais elevadas ou o gênero supremo e abaixo das quais se encontram outras subordinadas ou a espécie especialíssima; e há a espécie especialíssima, abaixo das quais se encontram apenas os indivíduos numericamente considerados.

e)      A doutrina de Aristóteles ensina que o ser não é o gênero supremo de todos os gêneros e espécies, pois as dez gêneros das Categorias é que são supremos e chamá-las todas de ser se diz por homonímia e não por sinonímia.

f)       As espécies especialíssimas são em número finito e os indivíduos em número infinito (no sentido de desconhecido).

g)      Para Platão a ciência vai dos gêneros supremos às espécies especialíssimas, e vice versa, mas não até os indivíduos.

h)      Pelo comum, o múltiplo se torna um e pelo particular o um se torna múltiplo.

i)        Os gêneros superiores podem sempre ser atribuídos aos inferiores, às espécies especialíssimas e aos indivíduos. Isso define a extensão dos termos. O indivíduo só pode ser atribuído a um ser particular, como a Sócrates ou a esta coisa que está aqui na mesa.  

j)        O indivíduo é aquele portador de particularidades exclusivas.

3.       Da diferença

a)      Diferença Comum – quando uma coisa difere de outra, por uma alteridade qualquer, ou quando uma coisa difere de si mesma. Ex: Sócrates difere de Platão e Sócrates criança difere de Sócrates adulto.

b)      Diferença própria – quando uma coisa difere da outra em razão de um acidente inseparável dela, como a cor dos olhos ou uma cicatriz.

c)       Diferença propriíssima – uma coisa difere de outra em razão de uma diferença específica.

d)      As diferenças comuns e próprias tornam o ser de uma qualidade outra, e a diferença propriíssima torna o ser outro.

e)        A divisão do gênero em espécies decorre das diferenças específicas e esta, junto ao gênero, define a espécie.

f)       As diferenças podem ser inseparáveis e separáveis. Dentre as inseparáveis, umas são essencialmente e outras por acidente. As inseparáveis essenciais são as específicas.

g)      As diferenças inseparáveis essenciais não admitem o mais e o menos, as acidentais sim.

h)      As diferenças inseparáveis essenciais se dividem entre aquelas que constituem a substância do gênero e aquelas que dividem o gênero em espécies.

i)        1ª Definição de diferença específica – é o que faz com que a espécie ultrapasse o gênero em compreensão.

j)        Os gêneros possuem as diferenças específicas apenas em potência.

k)      2ª Definição de diferença específica – é o que é atribuído na categoria da qualidade a uma pluralidade de coisas que, por isso, se diferem especificamente.

l)        3ª Definição de diferença específica – é o que separa naturalmente as coisas subordinados ao mesmo gênero.

m)    A diferença não só separa as coisas dentro do mesmo gênero, mas também contribui para a própria essência das coisas separadas.

4.       Do próprio

a)      1º Sentido – próprio é o que pertence acidentalmente a uma espécie, mesmo sem pertencer a toda a espécie. Ex.: é próprio do homem exercer a medicina.

b)      2º Sentido – próprio é o que pertence a espécie, a toda espécie, mas não a ela apenas. Ex.: é próprio do homem ser bípede.

c)       3º Sentido - próprio é o que pertence a uma só espécie, e a toda ela, mas num momento determinado. Ex.: é próprio do homem encanecer na velhice.

d)      4º Sentido – é o que pertence a uma só espécie, a toda ela, sempre, mesmo que em potencial. Ex.: é próprio do homem a faculdade de ri. É uma qualidade que faz sempre parte da natureza da espécie.
5.       Do acidente.
a)      1º Sentido – acidente é o que se produz e desaparece sem acarretar a destruição do sujeito.

b)      Divide-se em inseparável ou separável do sujeito. Ex.: dormir é separável do sujeito, ser negro, não.

c)       2º Sentido – acidente é o que pode pertencer ou não pertencer ao sujeito.

d)      3º Sentido – acidente é o que não é gênero, espécie, diferença ou próprio, mas é sempre subsistente num sujeito.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Resumo do Isagoge de Porfírio - 1ª Parte


Este é um resumo do livro Isagoge de Porfírio, o Fenício, discípulo de Plotino de Licópolis, publicado pela Editora Matese, com tradução, notas e comentários de Mário Ferreira dos Santos. Será apresentado em três partes. A primeira parte, o prefácio, agora postado; a segunda parte, as cinco vozes e a terceira parte, os caracteres comuns e diferentes às cinco vozes.

1.       Prefácio

a)      O livro expõe os conhecimentos necessários para aprender as Categorias de Aristóteles, para dar definições e para tudo que é concernente a divisão e a demonstração.
 
b)      Os conhecimentos são do gênero, da diferença, da espécie, do próprio e do acidente.

c)       O livro é um breve resumo do que disseram sobre isso os antigos filósofos, especialmente os peripatéticos, apenas no que se refere aos aspectos lógicos.