O Termo Segundo
Aristóteles
Resumo dos Capítulos
4 a 9: predicamentos.
1.
Substância
a)
Substância primeira é o que não é afirmado de um
sujeito nem está num sujeito.
b)
Chamam-se substâncias segundas as espécies, que
contém as substâncias primeiras, e os gêneros, que contém aquelas.
c)
Segundo o
que foi dito, o predicado deve ser afirmado do sujeito, tanto pelo nome
quanto pela noção. Isto é válido para os gêneros e as espécies quando afirmadas
das substâncias primeiras.
d)
Quanto aos seres que estão em um sujeito:
primeiro, na maior parte dos casos, nem seu nome nem sua noção podem ser
afirmados do sujeito; segundo, noutros casos, seu nome pode ser afirmado, mas
sua nação, não.
e)
Tudo o
mais ou é afirmado das substâncias primeiras, tomadas como sujeitos, ou está
nelas. Daí porque, se não existissem as substâncias primeiras, nada mais
poderia existir. Por isso, elas são chamadas de substâncias por excelência.
f) As espécies são mais substâncias
que os gêneros por estarem mais próximas das substâncias primeiras. Para
responder qual a natureza de uma substância primeira, é mais apropriado e
preciso mencionar a sua espécie do que o seu gênero. Ao contrário, assinalar
qualquer outra determinação seria inapropriado.
g)
Assim
como as substâncias primeiras são substratos de tudo o mais, as espécies são
substratos dos gêneros. E a relação que as substâncias primeiras mantêm com
tudo mais é a mesma que as espécies e os gêneros mantêm com tudo mais.
h)
Quanto às espécies que não são gêneros, assim
como as substâncias primeiras, uma não é em nada mais substância que a outra.
i) É caráter comum das substâncias
não está em um sujeito. Isto vale tanto para as substâncias primeiras quanto
para as substâncias segundas. Quanto às substâncias segundas, tanto o seu nome
quanto a sua definição podem ser atribuídos ao sujeito.
j)
É caráter comum das
substâncias segundas e das diferenças serem atribuídos em sentido unívoco, pois
todas as predicações têm por sujeito ou indivíduos ou espécies.
k)
É caráter comum das substâncias primeiras
significar um ser determinado. No caso das substâncias segundas, elas são
atribuídas a uma multiplicidade de seres, sendo assim elas significam uma
substância de tal qualidade.
l) Outro caráter é que as
substâncias não possuem contrários.
m)
As
substâncias também não são susceptíveis de mais ou de menos. Não admitir o mais
ou o menos significa que a substância não pode ficar mais ou menos substância
do que ela já é, ou do que outra de mesma categoria.
n)
O principal caráter das substâncias é que,
permanecendo idêntica e numericamente uma, é capaz de receber contrários. Este
é um caráter exclusivo das substâncias. Elas são capazes de receber contrários
quando sofrem uma mudança.
o)
O juízo e a opinião também recebem contrários;
permanecendo os mesmos, podem ser hora falso hora verdadeiro. Mas, neste caso,
a recepção de contrário não decorre de uma mudança no juízo, mas sim no objeto
ao qual o juízo se refere.
2.
Quantidade
a)
A quantidade é discreta ou contínua, e também é
constituída de partes com posições relacionadas entre si, ou que não tem
posições relacionadas entre si.
b)
São exemplos de quantidade discreta o número e o
discurso; de quantidade contínua, a linha, a superfície, o corpo, o tempo e o
lugar.
c)
Discreta é a quantidade cujas partes não possuem
limite comum onde se tocam; estão sempre separadas.
d)
Contínua é a quantidade cujas partes possuem
limite comum onde se tocam. Para a linha, o limite comum é o ponto; para a
superfície, é a linha; para o corpo, é a superfície; para o tempo, o presente é
o limite comum do passado e do futuro; e para o lugar, são as partes do corpo
que ele contém.
e)
A linha, a superfície, o corpo e o lugar também
são quantidades cujas partes ocupam posições recíprocas entre si.
f) O número, o tempo e o discurso são
quantidades cujas partes não ocupam posições recíprocas entre si. As partes do
número e do tempo possuem certa ordem, que vai do anterior para o posterior,
mas não ocupam posições. O discurso não ocupa posição porque suas partes não
subsistem depois de pronunciada.
g)
Somente a
linha, a superfície, o corpo, o lugar, o número, o tempo e o discurso são
quantidades no sentido próprio, tudo o mais é quantidade por acidente, na
medida em que é considerando em vista de uma daquelas em sentido próprio.
h)
A quantidade não admite qualquer contrário.
Grande é o contrário de pequeno e o muito do pouco, mas estes não são
quantidade, porque não existem por si; são relativos.
i) A quantidade não é susceptível de
mais e de menos.
j) Principalmente, o que é próprio,
exclusivo da quantidade, é que se lhe pode atribuir o igual e o desigual. Das
outras categorias, no máximo, pode se dizer semelhante ou dessemelhante.
3.
Relação
a)
Relativas são as coisas cujo ser consiste
totalmente em serem ditas dependentes de outras coisas ou em se referirem de
alguma maneira a outra coisa.
b)
São relativos os seguintes termos: estado,
disposição, sensação, ciência e posição.
c)
Os relativos podem ter contrários, mas nem todos
os relativos possuem contrários. O vício é o contrário da virtude, mas o dobro
não possui contrário.
d)
Os relativos admitem o mais e o menos, mas nem
todos os relativos admitem o mais e o menos. O igual e o desigual se dizem
segundo o mais e o menos; mas o dobro não é mais ou menos dobro.
e)
Todos os relativos possuem correlativos.
f) O modo da relação segue o seguinte
modelo: escravo é escravo do senhor
e dobro é dobro da metade, assim
como a idêntica reciprocidade nos inversos. Entretanto, há uma diferença de caso
na enunciação no que se refere ao conhecimento: o conhecimento é do cognoscível e o cognoscível é ao conhecimento.
g)
A relação deve ser tomada de maneira adequada,
por exemplo, asa não é relativo a pássaro, porque há seres que a possuem e não
são pássaros, daí que é adequado relacionar asa ao alado e este é correlativo
daquela.
h)
Há situações em que não há palavra para designar
o correlativo, por exemplo, leme em relação à nave não é adequando, porque há
naves sem leme; a relação adequada é leme com o “provido de leme”, e esta é a
melhor maneira de designar o correlativo quando não há nome: é usar o nome do
primeiro termo e aplicá-los as coisas pertinentes.
i) Não há relação quando um dos termos
for designado por um nome que apenas expressa acidentalmente o correlativo, é o
caso de escravo e homem, que não possui correlação, uma vez que homem expressa
apenas acidentalmente a condição de senhor.
j) Numa relação devem ser afastados
dos termos todos os caracteres que são acidentais à correlação.
k)
Os relativos devem ser designados adequadamente,
se existe um nome, este deve ser usado, se não existe, é necessário criar um.
l) Na maioria dos casos há
simultaneidade natural entre os relativos, além deles se anularem
reciprocamente. Se existe um é porque o outro também existe e se um deixar de
existir o outro também deixa. Alguns relativos, entretanto, não se enquadram
nesta propriedade, como, por exemplo, a ciência e seu objeto, a sensação e o
sensível.
m)
Não se cogita que as substâncias primeiras e as
suas partes integram os relativos. Homem e boi não são de alguma coisa, assim
como cabeça não se diz uma cabeça de
alguém, mas a cabeça de alguém.
n)
Somente em alguns casos, cogita-se que as
substâncias segundas podem ser relativas, tomando como base o fato de uma coisa
de certa forma ser referida a outra. Por exemplo, cabeça se diz do que ela é
uma parte. Mas esta não é a essência do relativo, e sim os termos serem apenas
enquanto afetado por uma relação.
o)
Nenhuma substância integra os relativos.
p)
Se se conhece uma coisa particular como um
relativo, então se conhece a outra coisa particular correlativa. Se se diz que
uma determinada coisa é dupla, então se conhece o de que ela é dupla.
q)
É difícil assegurar alguma coisa de positivo sem
prestar atenção a muitos aspectos, mas não é inútil discorrer sobre estes
pontos.
4.
Qualidade
a)
Qualidade é aquilo em virtude do qual se diz que
alguma coisa é tal. Os seres que possuem certa qualidade são chamados de tal
qualidade em razão de sua presença neles.
b)
O primeiro sentido de qualidade é chamado hábito
e disposição. O hábito difere da disposição por ter mais duração e
estabilidade.
c)
São hábitos a ciência e a virtude.
d)
Disposição são qualidades que com facilidade
podem ser movidas e com rapidez mudadas.
e)
Os hábitos são ao mesmo tempo disposições; as
disposições, apenas, não são hábitos.
f) O Segundo sentido de qualidade é
aquele que decorre de uma aptidão ou inaptidão natural. É o que se diz dos bons
ou maus lutadores, dos sãos e dos doentes, segundo a respectiva aptidão ou
inaptidão natural para a luta e para suportar tudo que lhes acontece.
g)
O terceiro sentido de qualidade é formado pelas
qualidades afetivas e pelas afecções. Qualidades afetivas são aquelas capazes
de produzir uma modificação nas sensações, ou pelo fato delas próprias serem o
resultado de uma modificação, ou pelo fato de ter sua fonte nas afecções
estáveis e permanentes, ou porque toma a sua origem no temperamento natural do
sujeito. Afecção são qualidades provenientes de causas fáceis de destruir e
rapidamente modificadas. Chama-se colérico um homem que possui este
temperamento, sendo colérico uma qualidade afetiva; mas aquele que, por algum
motivo pontual, põe-se em cólera, porque tomado por uma afecção, não é
colérico.
h)
O quarto sentido de qualidade é a forma ou a
figura; o caráter do que é reto e a curvatura, assim como outras propriedades
semelhantes.
i) Sem dúvida se poderia descobrir
outros sentidos de qualidade, mas os que foram citados sãos os principais.
j) Na maior parte, o nome da coisa
qualificada é derivado da qualidade. Alguma coisa é chamada de branco em razão
de possuir a brancura.
k)
Na maioria das vezes, a contrariedade pertence à
quantidade. Por exemplo, a virtude é contrária ao vício; a negrura, a brancura,
etc. Isto não se aplica, entretanto, às cores, tais como vermelho, amarelo, que
não possuem contrários. O contrário de uma qualidade será sempre outra
qualidade.
l) A maioria das qualidades admitem o
mais e o menos. Uma coisa portadora de uma qualidade pode ser mais ou menos
portadora que outra, assim como, através do aumento ou diminuição, pode ser
tornar mais ou menos portadora da qualidade que antes possuía. Entretanto, as
formas triangulares, tetragonais, por exemplo, não admitem mais ou menos.
m)
O semelhante e o dessemelhante são exclusivos
das qualidades.
n)
O autor reconhece que na sua exposição sobre as
qualidades inseriu muitos relativos, tais como os hábitos e as disposições.
Disse também que em praticamente todos os casos, os gêneros são relativos,
enquanto que nenhuma das espécies o é. Tal é o exemplo de ciência enquanto
gênero, que sempre se diz ciência de alguma coisa; mas isto não se aplica a
nenhuma espécie de ciência.
o)
As ciências particulares, em virtude das quais
somos qualificados de sábios, são qualidades.
p)
É possível classificar algo simultaneamente em
duas categorias.
5.
Da ação, da afecção e das outras categorias.
a)
A ação e a afecção admitem a contrariedade e são
suscetíveis de mais e de menos.
b)
Falou da posição no capítulo dos relativos,
estabelecendo ali que estes derivam os seus nomes das posições correspondentes.
c) Quanto ao tempo, o lugar e a posse, em razão de
suas naturezas, nada mais têm a acrescentar ao que foi