segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


O Termo Segundo Aristóteles

Resumo dos Capítulos 4 a 9: predicamentos.

 

1.                       Substância

 

a)                      Substância primeira é o que não é afirmado de um sujeito nem está num sujeito.

 

b)                      Chamam-se substâncias segundas as espécies, que contém as substâncias primeiras, e os gêneros, que contém aquelas.

 

c)                       Segundo o que foi dito, o predicado deve ser afirmado do sujeito, tanto pelo nome quanto pela noção. Isto é válido para os gêneros e as espécies quando afirmadas das substâncias primeiras.

 

d)                      Quanto aos seres que estão em um sujeito: primeiro, na maior parte dos casos, nem seu nome nem sua noção podem ser afirmados do sujeito; segundo, noutros casos, seu nome pode ser afirmado, mas sua nação, não.

 

e)                      Tudo o mais ou é afirmado das substâncias primeiras, tomadas como sujeitos, ou está nelas. Daí porque, se não existissem as substâncias primeiras, nada mais poderia existir. Por isso, elas são chamadas de substâncias por excelência.

 

f)                     As espécies são mais substâncias que os gêneros por estarem mais próximas das substâncias primeiras. Para responder qual a natureza de uma substância primeira, é mais apropriado e preciso mencionar a sua espécie do que o seu gênero. Ao contrário, assinalar qualquer outra determinação seria inapropriado.

 

g)                       Assim como as substâncias primeiras são substratos de tudo o mais, as espécies são substratos dos gêneros. E a relação que as substâncias primeiras mantêm com tudo mais é a mesma que as espécies e os gêneros mantêm com tudo mais.

 

h)                      Quanto às espécies que não são gêneros, assim como as substâncias primeiras, uma não é em nada mais substância que a outra.

 

i)                 É caráter comum das substâncias não está em um sujeito. Isto vale tanto para as substâncias primeiras quanto para as substâncias segundas. Quanto às substâncias segundas, tanto o seu nome quanto a sua definição podem ser atribuídos ao sujeito.

 

j)                        É caráter comum das substâncias segundas e das diferenças serem atribuídos em sentido unívoco, pois todas as predicações têm por sujeito ou indivíduos ou espécies.

 

k)                      É caráter comum das substâncias primeiras significar um ser determinado. No caso das substâncias segundas, elas são atribuídas a uma multiplicidade de seres, sendo assim elas significam uma substância de tal qualidade.

 

l)                Outro caráter é que as substâncias não possuem contrários.

 

m)                     As substâncias também não são susceptíveis de mais ou de menos. Não admitir o mais ou o menos significa que a substância não pode ficar mais ou menos substância do que ela já é, ou do que outra de mesma categoria.

 

n)                      O principal caráter das substâncias é que, permanecendo idêntica e numericamente uma, é capaz de receber contrários. Este é um caráter exclusivo das substâncias. Elas são capazes de receber contrários quando sofrem uma mudança.

 

o)                      O juízo e a opinião também recebem contrários; permanecendo os mesmos, podem ser hora falso hora verdadeiro. Mas, neste caso, a recepção de contrário não decorre de uma mudança no juízo, mas sim no objeto ao qual o juízo se refere.

 

2.                       Quantidade

 

a)                      A quantidade é discreta ou contínua, e também é constituída de partes com posições relacionadas entre si, ou que não tem posições relacionadas entre si.

 

b)                      São exemplos de quantidade discreta o número e o discurso; de quantidade contínua, a linha, a superfície, o corpo, o tempo e o lugar.

 

c)                       Discreta é a quantidade cujas partes não possuem limite comum onde se tocam; estão sempre separadas.

 

d)                      Contínua é a quantidade cujas partes possuem limite comum onde se tocam. Para a linha, o limite comum é o ponto; para a superfície, é a linha; para o corpo, é a superfície; para o tempo, o presente é o limite comum do passado e do futuro; e para o lugar, são as partes do corpo que ele contém.

 

e)                      A linha, a superfície, o corpo e o lugar também são quantidades cujas partes ocupam posições recíprocas entre si. 

 

f)                    O número, o tempo e o discurso são quantidades cujas partes não ocupam posições recíprocas entre si. As partes do número e do tempo possuem certa ordem, que vai do anterior para o posterior, mas não ocupam posições. O discurso não ocupa posição porque suas partes não subsistem depois de pronunciada.

 

g)                       Somente a linha, a superfície, o corpo, o lugar, o número, o tempo e o discurso são quantidades no sentido próprio, tudo o mais é quantidade por acidente, na medida em que é considerando em vista de uma daquelas em sentido próprio.

 

h)                      A quantidade não admite qualquer contrário. Grande é o contrário de pequeno e o muito do pouco, mas estes não são quantidade, porque não existem por si; são relativos.

 

i)               A quantidade não é susceptível de mais e de menos.

 

j)                    Principalmente, o que é próprio, exclusivo da quantidade, é que se lhe pode atribuir o igual e o desigual. Das outras categorias, no máximo, pode se dizer semelhante ou dessemelhante.

 

3.                       Relação

 

a)                      Relativas são as coisas cujo ser consiste totalmente em serem ditas dependentes de outras coisas ou em se referirem de alguma maneira a outra coisa.

 

b)                      São relativos os seguintes termos: estado, disposição, sensação, ciência e posição.

 

c)                       Os relativos podem ter contrários, mas nem todos os relativos possuem contrários. O vício é o contrário da virtude, mas o dobro não possui contrário.

 

d)                      Os relativos admitem o mais e o menos, mas nem todos os relativos admitem o mais e o menos. O igual e o desigual se dizem segundo o mais e o menos; mas o dobro não é mais ou menos dobro.

 

e)                      Todos os relativos possuem correlativos.

 

f)                    O modo da relação segue o seguinte modelo: escravo é escravo do senhor e dobro é dobro da metade, assim como a idêntica reciprocidade nos inversos. Entretanto, há uma diferença de caso na enunciação no que se refere ao conhecimento: o conhecimento é do cognoscível e o cognoscível é ao conhecimento.

 

g)                      A relação deve ser tomada de maneira adequada, por exemplo, asa não é relativo a pássaro, porque há seres que a possuem e não são pássaros, daí que é adequado relacionar asa ao alado e este é correlativo daquela.

 

h)                      Há situações em que não há palavra para designar o correlativo, por exemplo, leme em relação à nave não é adequando, porque há naves sem leme; a relação adequada é leme com o “provido de leme”, e esta é a melhor maneira de designar o correlativo quando não há nome: é usar o nome do primeiro termo e aplicá-los as coisas pertinentes. 

 

i)            Não há relação quando um dos termos for designado por um nome que apenas expressa acidentalmente o correlativo, é o caso de escravo e homem, que não possui correlação, uma vez que homem expressa apenas acidentalmente a condição de senhor.

 

j)                        Numa relação devem ser afastados dos termos todos os caracteres que são acidentais à correlação.

 

k)                      Os relativos devem ser designados adequadamente, se existe um nome, este deve ser usado, se não existe, é necessário criar um.

 

l)              Na maioria dos casos há simultaneidade natural entre os relativos, além deles se anularem reciprocamente. Se existe um é porque o outro também existe e se um deixar de existir o outro também deixa. Alguns relativos, entretanto, não se enquadram nesta propriedade, como, por exemplo, a ciência e seu objeto, a sensação e o sensível.

 

m)                    Não se cogita que as substâncias primeiras e as suas partes integram os relativos. Homem e boi não são de alguma coisa, assim como cabeça não se diz uma cabeça de alguém, mas a cabeça de alguém. 

 

n)                      Somente em alguns casos, cogita-se que as substâncias segundas podem ser relativas, tomando como base o fato de uma coisa de certa forma ser referida a outra. Por exemplo, cabeça se diz do que ela é uma parte. Mas esta não é a essência do relativo, e sim os termos serem apenas enquanto afetado por uma relação.

 

o)                      Nenhuma substância integra os relativos.

 

p)                      Se se conhece uma coisa particular como um relativo, então se conhece a outra coisa particular correlativa. Se se diz que uma determinada coisa é dupla, então se conhece o de que ela é dupla.

 

q)                      É difícil assegurar alguma coisa de positivo sem prestar atenção a muitos aspectos, mas não é inútil discorrer sobre estes pontos.

 

4.                       Qualidade

 

a)                      Qualidade é aquilo em virtude do qual se diz que alguma coisa é tal. Os seres que possuem certa qualidade são chamados de tal qualidade em razão de sua presença neles.

 

b)                      O primeiro sentido de qualidade é chamado hábito e disposição. O hábito difere da disposição por ter mais duração e estabilidade.

 

c)                       São hábitos a ciência e a virtude.

 

d)                      Disposição são qualidades que com facilidade podem ser movidas e com rapidez mudadas.

 

e)                      Os hábitos são ao mesmo tempo disposições; as disposições, apenas, não são hábitos.

 

f)                     O Segundo sentido de qualidade é aquele que decorre de uma aptidão ou inaptidão natural. É o que se diz dos bons ou maus lutadores, dos sãos e dos doentes, segundo a respectiva aptidão ou inaptidão natural para a luta e para suportar tudo que lhes acontece.

 

g)                      O terceiro sentido de qualidade é formado pelas qualidades afetivas e pelas afecções. Qualidades afetivas são aquelas capazes de produzir uma modificação nas sensações, ou pelo fato delas próprias serem o resultado de uma modificação, ou pelo fato de ter sua fonte nas afecções estáveis e permanentes, ou porque toma a sua origem no temperamento natural do sujeito. Afecção são qualidades provenientes de causas fáceis de destruir e rapidamente modificadas. Chama-se colérico um homem que possui este temperamento, sendo colérico uma qualidade afetiva; mas aquele que, por algum motivo pontual, põe-se em cólera, porque tomado por uma afecção, não é colérico.

 

h)                      O quarto sentido de qualidade é a forma ou a figura; o caráter do que é reto e a curvatura, assim como outras propriedades semelhantes.

 

i)                 Sem dúvida se poderia descobrir outros sentidos de qualidade, mas os que foram citados sãos os principais.

 

j)                       Na maior parte, o nome da coisa qualificada é derivado da qualidade. Alguma coisa é chamada de branco em razão de possuir a brancura.    

 

k)                      Na maioria das vezes, a contrariedade pertence à quantidade. Por exemplo, a virtude é contrária ao vício; a negrura, a brancura, etc. Isto não se aplica, entretanto, às cores, tais como vermelho, amarelo, que não possuem contrários. O contrário de uma qualidade será sempre outra qualidade.

 

l)              A maioria das qualidades admitem o mais e o menos. Uma coisa portadora de uma qualidade pode ser mais ou menos portadora que outra, assim como, através do aumento ou diminuição, pode ser tornar mais ou menos portadora da qualidade que antes possuía. Entretanto, as formas triangulares, tetragonais, por exemplo, não admitem mais ou menos.

 

m)                    O semelhante e o dessemelhante são exclusivos das qualidades.

 

n)                      O autor reconhece que na sua exposição sobre as qualidades inseriu muitos relativos, tais como os hábitos e as disposições. Disse também que em praticamente todos os casos, os gêneros são relativos, enquanto que nenhuma das espécies o é. Tal é o exemplo de ciência enquanto gênero, que sempre se diz ciência de alguma coisa; mas isto não se aplica a nenhuma espécie de ciência.

 

o)                      As ciências particulares, em virtude das quais somos qualificados de sábios, são qualidades.

 

p)                      É possível classificar algo simultaneamente em duas categorias.

 

5.                       Da ação, da afecção e das outras categorias.

 

a)                      A ação e a afecção admitem a contrariedade e são suscetíveis de mais e de menos.

 

b)                      Falou da posição no capítulo dos relativos, estabelecendo ali que estes derivam os seus nomes das posições correspondentes.
 
 
c)             Quanto ao tempo, o lugar e a posse, em razão de suas naturezas, nada mais têm a acrescentar ao que foi