quinta-feira, 21 de março de 2013

Uma Nova História de Mouchete

Diariamente encontro uma multidão de miseráveis pelo caminho e sempre percebi que, além das privações materiais ou morais, compartilham entre si outra espécie de privação, que nunca soube definir.

Não afirmo, com isso, que haja qualquer relação de causalidade entre elas, nem que seja impossível sair de tal condição.

Aquela para mim obscura foi muito bem esclarecida por Georges Bernanos em "Uma Nova História de Mouchete" publicada pela Editora É Realizações:

"O pensamento de Mouchette nunca se apresenta, evidentemente, com uma bela organização lógica. Permanece vago, passa facilmente de um plano a outro. Se os miseráveis tivessem o poder de associar entre si as imagens de suas infelicidades, elas os esmagariam. Mas a miséria deles é uma infinidade de misérias, um desenrolar de acasos infelizes. Eles se parecem com cegos cujos dedos trêmulos contam moedas de valor desconhecido. Para os miseráveis, a idéia de miséria basta. A miséria deles não tem rosto."

Resumo dos Comentários de Mário Ferreira dos Santos aos Antepredicamentos

 
1.       Sobre o Livro “Das Categorias”

 
a)      Categorias ou predicamentos são os gêneros supremos. O livro é divido em três partes: a 1ª – os antepredicamentos (cap. 1 a 4) – que são os pré-requisitos para a razão dos predicamentos e sua coordenação nos seus respectivos gêneros; a 2ª – os predicamentos (cap. 5 a 9) – que são os gêneros supremos nos quais se resume todos os entes criados; e a 3 – os pós-predicamentos – que são as propriedades de todos os predicamentos ou de muitos deles.

 
2.       Análise Geral dos Antepredicamentos.

 
a)      Os predicamentos se dividem em unívocos, equívocos, análogos e denominativos.
b)      Unívocos são aqueles que se predicam pelo nome e pela sua definição essencial.
c)       Equívocos são aqueles que se predicam apenas pelo nome, mas não pela sua definição essencial.
d)      Análogos são aqueles que se predicam em parte pelo nome e em parte pela definição essencial.
e)      Não há conceitos equívocos, somente unívocos ou análogos.
f)       Segundo a complexidade ou incomplexidade, os predicamentos podem ser analisados em quatro combinações: na 1ª, se dizem do sujeito, mas não estão no sujeito (são as substâncias segundas); na 2ª, não se dizem do sujeito, mas estão no sujeito (são os acidentes singulares); na 3ª, não se dizem do sujeito e não estão no sujeito (são as substâncias primeiras); e na 4ª, se dizem do sujeito e estão no sujeito (são os acidentes universais).
g)      Quatro Regras dos antepredicamentos: 1ª, predica-se “per si” o predicamento que é segundo sua própria razão; 2ª, uma coisa difere de outra quando a razão de uma difere da razão da outra; 3ª, quando se predica algo de algum sujeito, o quê se diz do predicado também se diz do sujeito; e 4ª, nos gêneros não subalternos, as diferenças essências não são as mesmas.

 
3.       Razões dos Antepredicamentos

 
a)       A 1ª Razão considerada os antepredicamentos em tríplice aspecto: 1º, os análogos e os equívocos estão acima de todos os predicamentos; 2º, os unívocos se coordenam nos mesmos predicamentos; e 3º, os denominativos estão nos mesmos predicamentos em relação aos que estão em outros.
b)      A 2ª Razão consiste em ser a predicação coordenação das coisas simples e não das complexas. Coisas simples são aquelas que têm uma única definição e quididade.
c)       A 3ª Razão consiste em estar ou não o predicamento num sujeito e no se dizer ou não do sujeito. Por isso se dividem em duplo gênero, substâncias e acidentes, coordenados em quatro tipos, segundo a singularidade e a universalidade.
d)      A 4ª Razão consiste em conhecer a coordenação dos predicamentos em linha reta, assim como a conexão ou separação deles enquanto diferença. Duas regras decorrem daí: 1ª o que se predica do superior, predica-se dos seus inferiores; 2ª os gêneros não subordinados ente si não possuem as mesmas diferenças.

 
4.       Equívoco

 
a)      Coisas com o mesmo nome, mas a razão designada por esse nome é diversa.
b)      O conceito de Aristóteles se aplica aos “equívocos equivocados”.
c)       Quanto ao “equivoco equivocante”, a equivocação se dá no nome, não no conceito. O nome é o mesmo, mas a razão a qual se refere é outra.

 
5.       Análogos

 
a)      Analogia é um “médium” entre a univorcidade e a equivocidade.
b)      Conceitos análogos são aqueles que têm em sua razão alguma nota em comum. Esta “nota em comum” era chamada pelos pitagóricos e platônicos de “logos analogante”.
c)       Há dois tipos de analogias: 1º, de atribuição extrínseca, na qual o logos analogante faz parte ou se refere ao que é extrínseco da coisa; e 2º, de atribuição intrínseca.
 d)       Há mais dois tipos de analogias: 1º, de proporção – num dos analogados o “logos analogante” é segundo a intenção e o ser e noutro é apenas segundo a intenção; e 2º, de proporcionalidade – o logos é apenas segundo a intenção para os dois analogados.
e)      A analogia de proporcionalidade se divide em duas: 1ª, própria, quando a razão significada para o análogo se dá para ambos os analogados; e 2ª, imprópria ou metafórica, quando a razão do análogo se dá num e no outro apenas por similaridade.

 
6.       Graus de Univocação Segundo os Escotistas

 
a)      No 1º Grau – o mais perfeito – o unívoco é segundo o nome, a razão, o modo de ser a mesma ordem e a mesma perfeição. Exemplo: homem que se predica para todos os indivíduos da espécie humana.
 b)      No 2º Grau, o unívoco é segundo o nome, a razão, o modo de ser e a mesma ordem. Exemplo: animal, que se predica para homem e bruto.
 c)       No 3º Grau, o unívoco é no nome, na razão e no modo de ser.Exemplo: número, quando se predica para binário e para ternário.
d)      No 4º Grau, unívoco é no nome e na razão. É chamado de único análogo.


terça-feira, 12 de março de 2013

O Termo segundo Aristóteles
 
Pós Predicamentos (Resumos dos capítulos 10 a 15)

 
1. Capítulo 10 (Dos opostos)

 
a)                 Acepções habituais de oposição


b)                 Há quatro maneiras de oposição de um termo a outro: 1ª oposição dos relativos; 2ª dos contrários; 3ª da privação à posse e 4ª da afirmação e da negação.

c)                  Oposição dos relativos – a totalidade do ser de um consiste em ser dito do seu oposto, ou que a ele se refere de alguma maneira numa relação recíproca. Por exemplo, o dobro e a metade; o conhecimento e o cognocível.

d)                 Oposição dos contrários – não tem sua essência na referência que mantém um com o outro. Manifestam-se de dois modos: 1º quando há contrários que estão em algo ou é afirmado de algo e este algo necessariamente deve conter um ou outro, não há intermediário entre eles, por exemplo, a doença e a saúde; 2º quando há contrários em que um e outro não estão necessariamente contidos no sujeito, há intermediário entre eles, por exemplo, negro e branco, sendo intermediárias todas as outras cores. Em certos casos o intermediário possui nome, como nas cores, mas em outros o intermediário não possui, sendo denominado com a negação dos dois contrários, como entre bom e mau, cujo intermediário é o que não é nem bom nem mau.

e)                 Opostos como privação e posse – o termo designa a posse natural de algo e o contrário designa a ausência do que se é apto a receber, mas não está de nenhuma maneira.

f)                    Opostos como afirmação e negação – a afirmação e a negação são próprias das proposições e não dos termos. Somente neste caso uma é verdadeira e a outra é falsa, porque nelas está expresso uma ligação. Dentre elas, em algumas não há relação de verdade e falsidade entre as opostas, quanto o sujeito não existe. Por exemplo, se “Socrates” não existe, ambos os contrários são falsos em “Socrates está doente” e “Socrates está de boa saúde”. Os opostos necessariamente verdadeiros e falsos são “Socrates está doente” e “Socrates não está doente”.

g)                 Duas observações importantes: 1º Estar privado de algo, ou possuí-lo, não é a mesma coisa que a privação e a posse. Por exemplo, cegueira e visão são privação e posse; mas estar cego ou ter a visão é está privado de algo e possuí-lo. 2º A oposição nas proposições afirmativas e negativas se aplicam também aos sujeitos da proposição.

h)                 As maneiras como os termos se enquadram em suas respectivas oposições são próprias de cada oposição, não havendo entre elas compartilhamento. Exceto o caso dos contrários que não comportam intermediário que, por necessariamente um ou outro dever estar sempre presente no sujeito em que residem, caem sob a privação e a posse.
 

2. Capítulo 11 (Dos Contrários)

 
a)                 Por indução dos casos particulares, o contrário de um bem é um mal. Na maioria das vezes, o contrário de um mal é um bem. Mas num pequeno número de casos, o contrário de um mal pode ser um mal ou um bem, por exemplo: o contrário de excesso (um mal), pode ser carência (um mal) ou medida (um bem).

b)                 Nos contrários, a existência de um não acarreta necessariamente a existência do outro. Por exemplo, se todo mundo é saudável, a saúde existirá, com a exclusão da doença.

c)                  Os contrários existem naturalmente num sujeito que é o mesmo, pelas espécies ou pelo gênero. A saúde e a doença se encontram no corpo do animal.

d)                 Os contrários estão no mesmo gênero, em gêneros contrários, ou eles mesmos são gêneros contrários.

 
3. Capítulo 12 (Do anterior ou da prioridade)

 
a)                 De uma coisa se diz anterior de quatro maneiras: 1ª segundo o tempo (sentido fundamental); 2ª aquele cuja existência não depende do posterior, mas este depende daquele; 3º com relação à certa ordem e 4ª o que é melhor e mais estimável que o outro parece ser anterior por natureza, mas Este é o sentido mais afastado.

b)                   Outro sentido: nas coisas que são recíprocas quanto à existência, é anterior aquela que for causa de existência da outra, por exemplo: o homem real e a proposição verdadeira em que é sujeito; se o homem existe a proposição é verdadeira existe e vise versa, mas o homem real é anterior porque sem a sua existência a proposição verdadeira em que é sujeito não existiria.


4. Capítulo 13 (Da simultaneidade)

 
a)                 De duas maneiras se diz simultâneo: 1ª num sentido simples, quando duas coisas são geradas ao mesmo tempo; 2ª por natureza, cujas existências são recíprocas e uma não é causa para a outra.

b)                 As espécies que, na divisão do mesmo gênero, são opostas, são também simultâneas por natureza.  

c)                  Não há simultaneidade entre o gênero e suas espécies, pois aquele é sempre anterior a estas.

 
5. Capítulo 14 (Da moção)

 
a)                 Há seis espécies de moção: a geração, a corrupção, o aumento, a diminuição, a alteração e a moção local.

b)                 Oposição entre as moções: geração e corrupção; aumento e diminuição; movimento e repouso ou movimento em sentido contrário e alteração e repouso qualitativo ou em sentido qualitativo contrário.

c)                  Alteração é a mudança para a qualidade contrária.

 
6. Capítulo 15 (O termo “habere”, ter)

 
a)                 Diversas acepções: sentido de hábito e de disposição ou de qualquer outra qualidade; sentido de quantidade; sentido de “como num vaso”; sentido de posse; sentido afastado, por exemplo, quando se diz “ter uma mulher” que precisamente significa “habitar com ela”. Estes são os habituais, mas há outros sentidos.