domingo, 6 de novembro de 2011

O Termo Segundo Aristóteles

1.       Resumos dos Capítulos 1, 2 e 3: ante-predicamentos.

Segue um resumo do significado de termo, segundo as explicações de Aristóteles no livro “Das Categorias”, traduzidos para o português por Pinharanda Gomes, pela Editora Guimarães, e por Mário Ferreira dos Santos, pela Editora Matese.

Entendo que as explicações de Aristóteles nesse livro se referem ao termo na sua acepção de dictio e não na acepção de términus. Já apresentei a diferença entre estes dois conceitos, quando resumi os ensinamentos de Jacques Maritain.

Os estudiosos afirmam que estes capítulos se referem aos ante-predicamentos. São ante-predicamentos, segundo Mario Ferreira dos Santos, os preâmbulos e pré-requesitos para a ordenação dos predicamentos.
          
            Aristóteles escreve sobre as coisas o seguinte: no capítulo 1, diz como as coisas partilham nomes e definições, sob o critério da relação que mantém entre si; no capítulo 2, distingue as coisas enquanto capazes de serem afirmadas de um sujeito e enquanto presentes no sujeito; no capítulo 3; relata as conseqüências necessárias do fato de uma coisa ser afirmada de outra. 

           Três são as formas das coisas partilharem nomes e definições.

Primeiro, são homônimas ou equívocas as coisas que podem ser denominadas com o mesmo nome, mas este não lhes atribui à mesma definição, pois elas possuem caracteres essenciais distintos. Assim é para um “homem real” e uma “pintura de homem”, as quais podem ser denominadas de “animal”, mas que evidentemente possuem caracteres essenciais distintos e, por isso, este nome não lhes atribui à mesma definição. Há, portanto, três elementos envolvidos na idéia: coisa, nome e definição. Duas são as coisas: “homem real” e “pintura de homem”; um é o nome: “animal” e duas são as definições, uma para cada coisa, não ditas, mas implícitas: “indivíduo animal racional” e “símbolo visualmente sensível de um indivíduo animal racional”. Homônimas (equívocas) são as duas coisas

Segundo, são sinônimas ou unívocas as coisas que podem ser denominadas com o mesmo nome e este lhes atribui à mesma definição, pois elas possuem caracteres essenciais parcialmente idênticos. Assim é para um “homem” e um “boi”, os quais podem ser denominados de “animal” e este nome lhes atribui à mesma definição, na exata medida em que compartilham caracteres essenciais idênticos. Ambas as coisas são substâncias compostas, dotadas de corpo vivente, animado e sensível, notas estas definidoras do gênero animal. Daí porque ambas as coisas podem ser designada pelo nome genérico “animal”. Elas se distinguem pela diferença específica “racional” no homem e “irracional” no boi. Há, portanto, os mesmos três elementos envolvidos na idéia: coisa, nome e definição. Duas são as coisas: “homem” e “boi”; um é o nome: “animal” e uma é a definição, para ambas as coisas, não dita, mas implícita: “ser vivo constituído de corpo e animação sensível”. Sinônimas (unívocas) são as duas coisas.

Assim, as coisas homônimas e sinônimas possuem uma igualdade que as inclui num único gênero e diferenças que as tornam espécies distintas. A igualdade consiste em serem coisas distintas que compartilham o mesmo nome. A diferença está nos caracteres essenciais revelados pelas definições embutidas nos nomes: se a mesma definição, os mesmos caracteres, sinônimas; se definições distintas, caracteres distintos, homônimas. 

Terceiro, são parônimas ou denominativas as coisas que mantém a seguinte relação: uma recebe o nome derivado do nome da outra. Assim é para o “gramático”, que recebe seu nome derivado do de outra coisa, a “gramática”. Duas são as coisas: “um indivíduo” e “uma ciência”; dois são os nomes: “gramático” e “gramática”; duas são as definições, uma para cada coisa, não ditas, mas implícitas: “indivíduo conhecedor da ciência da gramática” e “ciência que trata da organização e do funcionamento de uma língua”, e a derivação dos nomes. Parônimas (denominativas) são as duas coisas.

Quatro sãos as distinções das coisas enquanto capazes de serem afirmadas de um sujeito e enquanto presentes no sujeito. 

Primeiro, há coisas que podem ser afirmadas de um sujeito, mas nunca está presente em um sujeito. Por exemplo, a espécie homem pode ser afirmada de um homem individual, mas não está presente em nenhum sujeito. 

Segundo, há coisas que não podem ser afirmadas de um sujeito, mas está presente em um sujeito. Por exemplo, a brancura não pode ser afirmada de um sujeito, mas ela está presente em um sujeito, num determinado corpo. 

Terceiro, há coisas que podem ser afirmada de um sujeito e ao mesmo tempo está em um sujeito. Por exemplo, a ciência pode ser afirmada de um sujeito, que é a gramática, e ao mesmo tempo está em um sujeito, que é na alma humana. 

E quarto, há coisas que não podem ser afirmadas de um sujeito, nem está em um sujeito. Por exemplo, o homem individual, que não pode ser afirmado de um sujeito, nem está em um sujeito.

            Duas são as conseqüências lógicas necessárias do fato de uma coisa ser afirmada de outra. 

Primeiro, se uma coisa é afirmada de outra, então tudo que for afirmado daquela (do predicado) será afirmado desta (do sujeito): o predicado do predicado é predicado do sujeito. Por exemplo, se a espécie homem é afirmada do homem individual, então o gênero animal, que é afirmado da espécie homem, também é afirmado do homem individual. 

Segundo, se os gêneros são diferentes e não subordinados entre si, então as diferenças específicas de um não são aplicáveis ao outro. Por exemplo, os gêneros animal e ciência são diferentes e não subordinados entre si; então as diferenças específicas do gênero animal, que são pedestre, alado e aquático, não são aplicáveis ao gênero ciência.  

            Além disso, Aristóteles escreve sobre as expressões o seguinte: as expressões são simples, quando não há combinações de nomes, a exemplo de “homem”; ou compostas, quando há combinações de nomes, a exemplo de “o homem corre”. 

Pelo visto, então, os ante-predicamentos se referem a coisas, nomes, definições e diferenças. São quatro ao todo: 1º, a divisão das coisas em homônimas (equívocas), sinônimas (unívocas) e parônimas (denominativas); 2º, divisão das coisas enquanto afirmadas de um sujeito e presentes no sujeito; 3º, a divisão das coisas em razão das suas diferenças e 4º, a divisão das expressões entre simples e complexas.

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